sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mídia versus cotas nas universidades




O papel da mídia na construção da democracia é vital, ninguém questiona. Cabe a ela organizar e promover um debate amplo e transparente, onde todas as vozes contrárias ou a favor sejam ouvidas. Acima de tudo a mídia precisa ser honesta.

Na questão das cotas universitárias o tema está ligado principalmente às questões étnicas (negros e índios) e periféricas, mas estamos assistindo um debate desigual. Somente um grupo privilegiado, que justamente é contrário às cotas, tem voz e esse desequilíbrio não faz bem para quem durante anos lutou a favor da liberdade de expressão nos meios de comunicação. Claro que o outro lado tem todo o direito de ser contra, mas aonde entra o outro lado da moeda, a opinião para equilibrar o debate?

Para citar um exemplo, um famoso sociólogo muito apreciado pela direita conservadora e a burguesia apareceu divulgando o seu livro na mesma emissora de ampla cobertura nacional mais de dez vezes num período de uma semana. Independente do livro ser bom ou não, um outro sociólogo não teve o mesmo tratamento que deveria ser dado. Uma pena, quem perde é a própria democracia.

Numa democracia toda a mídia burguesa e corporativista precisa ter seu conteúdo diversificado, mesmo tendo uma opinião contrária a determinados assuntos, como por exemplo as cotas raciais,  deve dar vez também aos grupos favoráveis. Mas a tendência geralmente é defender seus interesses, que vão contra às cotas e as políticas afirmativas como um todo.

Cabe a mídia divulgar o assunto e levar adiante, para deixar o público entender melhor o tema e assim chegarmos a um denominador comum sobre a situação. Quem está bem informado sabe muito bem que o sistema de cotas é um mecanismo que pode muito bem se ampliar e abrir várias oportunidades para aqueles que sempre foram marginalizados. Este, infelizmente, é o cenário que por séculos numa sociedade sustentada pelo poder econômico, machista, racista e patriarcal, dominou e ainda manda nesse país.

O Estado brasileiro é perverso por si só, a luta pelas cotas é um esforço de toda uma sociedade que quer dar um basta nas injustiças tão gritantes da nossa história. A democratização do ensino, nesse sentido, é fundamental. Falar em cotas ou ações afirmativas é lutar por um país mais igual, ninguém em sã consciência quer transformar o Brasil numa nação binária ou dividida (apesar de já nascermos sob uma divisão). E não vai ser a grande mídia burguesa que irá dizer qual será o nosso rumo, pautando o que devemos fazer ou não.

É muito importante nossa participação em todos os debates, botando a nossa cara a tapa, e não se amedrontar pelas notícias de um futuro tenebroso por causa das cotas. Vamos à luta por um país onde as vozes minoritárias sejam ouvidas, e se transformem em protagonistas de suas histórias.

(*) Fábio Nogueira é coordenador de pré-vestibular comunitário na Vila Aliança, no Rio de Janeiro, e militante da Educafro.

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