Paulo Moreira Leite
A comparação entre o Brasil de hoje e aquele
que antecede a chegada de Lula ao Planalto, em 2003, é chocante e perturbadora.
Aposto que muitos eleitores sequer se dão conta do que mudou no país ao longo
de onze anos. A comparação, é claro, só prejudica quem quer ganhar a eleição de
outubro com o discurso do caos e da catástrofe e, ciente da impunidade
junto aos meios de comunicação, chega a prometer “medidas impopulares” sem
ficar corado nem temer por repercussões negativas.
A comparação com o discurso do medo
apresentado por Regina Duarte, na reta final de 2002, não faz sentido. O
discurso de 12 anos atrás não podia apoiar-se em fatos objetivos.
Naquele ano, a inflação disparava e o país
pedia socorro ao Fundo Monetário Internacional para não quebrar. A popularidade
de Fernando Henrique era tão baixa que José Serra, candidato do governo,
preferia manter distância do Planalto e do presidente. Quando perguntado sobre
a economia – um desastre nos ultimos anos de FHC – o candidato tucano não
colocava a culpa na crise internacional apenas. Fazia questão de dizer que o
governo FHC não seguira a política economica de sua preferência.
O PSDB até podia falar no medo mas não
conseguia apresentar nenhum motivo para transmitir segurança ao eleitorado em
caso de vitória de seu candidato. Este era o ponto. Era uma aposta no
irracional, no pavor do desconhecido, naquilo que os psicanalistas chamam de
inconsciente. No vale tudo da reta final, o olhar de Regina Duarte tinha muito
de heroína de novela. Mas sua alternativa era o apagão, o desemprego, as
privatizações.
Você sabe minha opinião
sobre o governo Lula-Dilma e não vou explicar o que penso aqui. Mas é evidente
que vive-se outra situação com uma economia que mantém o menor desemprego da
história, que valoriza o salário mínimo e consegue, com muitos esforços, manter
a inflação na melhor média desde a posse de FHC no Planalto, em 1995.
A campanha pela reeleição de Dilma compara
passado e presente porque pode fazer isso. Não fala de um sentimento, que pode
ser manipulável, mas de fatos. Não faltam emoções nos momentos de encontros de
brasileiros consigo mesmos. Você pode até achar que se chegou ao melodrama. Mas
o conteúdo é racional, compreensível. É político.
Eu acho provável que a
campanha venha adquirir outra dinâmica nas próxiimas semanas. Num país onde os
meios de comunicação vivem num mundo fechado, de suas próprias ideologias e
preferencias seletivas, a propaganda eleitoral é um raro espaço
democrático.
Vai oferecer ao governo Dilma uma chance
única de dialogar com os brasileiros e defender seu legado político. É por isso
e apenas por isso que a oposição teme comparações com o passado.
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